Muito além do preço
A alta no preço dos fatores inerentes à produção de leite, observada no último ano, demonstra que a sobrevivência do produtor na atividade vai muito além do preço recebido. A produção deve ser eficiente na utilização dos insumos e serviços da propriedade leiteira, afinal de contas, são esses fatores que estão sob maior controle do produtor. Nesse sentido, o produtor precisa ter atenção redobrada com o custo do concentrado, uma vez que esse insumo compromete, em média, 35% da renda bruta da atividade.
Assim, alternativas que ajudem a equilibrar o custo com o concentrado e o indicador de Relação de Troca entre o leite e o concentrado, podem ser importantes aliados para balizar as tomadas de decisão. A compra dos insumos utilizados para a produção de concentrado, principalmente na época de alta desses e de baixa no preço do leite, deve ser analisada para que não se transforme no maior entrave para o alcance de bons resultados financeiros.
O ano de 2020 foi atípico para a cadeia de lácteos devido à insegurança causada pela pandemia do novo coronavírus. Os dados mostrados no Gráfico 1 revelam que o ano começou com um aumento de 11,90% no preço do concentrado entre os meses de janeiro e maio, devido à grande exportação de milho e soja, bem como por uma desvalorização do real frente as moedas internacionais, como o dólar. Bem diferente disso, o preço do leite saiu de R$1,98/L para R$2,02/L no mesmo período, uma elevação discreta de 2,02%, em função do temor geral da população em relação à pandemia, reduzindo o consumo de leite e derivados.
Gráfico 1 – Preço do Leite (R$/litro) e Preço do Concentrado (R$/kg) no ano de 2020
Fonte: Sebrae Minas. 316 fazendas atendidas pela plataforma Educampo. Dados de Jan/20 a Dez/20, corrigidos pelo IGP-DI de Jan/21
Após o mês de maio, o preço médio do concentrado continuou a subir, porém em ritmo mais lento, saindo de R$1,56/kg para R$1,60/kg em dezembro, valor 2,82% superior. Essa variação se justifica diante da maior oferta de grãos no mercado internacional, o que esfriou um pouco o ritmo das exportações. Já o preço do leite obteve um aumento de 15,26%, saindo de R$1,96/L em abril para R$2,33/L em dezembro. O auxílio emergencial elevou o poder de compra da população mais carente, gerando uma maior demanda por leite e seus derivados. Soma-se a esse fator a chegada do período seco, que reduziu a oferta dos lácteos no mercado.
A Relação de Troca entre o preço do leite e o preço do concentrado nos informa quantos quilos de concentrado é possível comprar com a venda de um litro de leite. Dessa forma, quanto mais elevado esse indicador estiver, melhor a situação do produtor em relação ao poder de compra do concentrado. Os dados do Gráfico 2 mostram a média da Relação de Troca de cada mês nos últimos 3 anos. Observe que o ano de 2018 foi um ano típico para a cadeia leiteira: a Relação de Troca acompanhou a sazonalidade de preços do leite e dos insumos inerente à produção de concentrado. Já 2019 foi um ano de queda no poder de compra do leite frente aos insumos concentrados. Esse ano foi marcado por um consumo discreto de lácteos por parte dos brasileiros, apertando as margens da indústria e consequentemente do produtor.
Gráfico 2 – Relação de Troca entre o Preço do Leite (R$/litro) e Preço do Concentrado (R$/kg), entre 2018 e 2020
Fonte: Sebrae Minas. 316 fazendas atendidas pela plataforma Educampo. Dados de Jan/18 a Dez/20, corrigidos pelo IGP-DI de Jan/21
O ano de 2020 trouxe grandes incertezas para o mercado em geral, proporcionando variações apresentadas no Gráfico 2. Observe que esse ano detém não só os 4 meses (março, abril, maio e junho) com a pior Relação de Troca dos últimos 3 anos, mas também 5 meses (agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro) com a melhor relação desses mesmos 3 anos. Apesar do segundo semestre, em geral, ter representado um melhor cenário para o produtor que no primeiro, a situação é de alerta. No último trimestre do ano, o preço do leite se manteve estável na faixa de R$2,33/L e R$2,35/L, entretanto, o preço do concentrado continuou em alta, apresentando uma elevação de 5,20% nos últimos três meses de 2020. Assim, mesmo com a manutenção do preço do leite em patamares elevados no final de 2020, o elevado custo do concentrado gerou queda na Relação de Troca.
O maior custo com concentrado pode levar o produtor a reduzir o fornecimento desse alimento aos animais, visando a diminuição dos desembolsos mensais e um rápido ajuste no fluxo de caixa da propriedade. Entretanto, essa prática não é a mais recomendada, tendo em vista que a redução do consumo de concentrado irá impactar diretamente na produtividade dos animais, podendo reduzir a renda com o leite, acarretando um resultado oposto ao esperado.
A melhoria na Relação de Troca Leite/Concentrado, tendo em vista a falta de domínio do produtor sobre o preço do leite, passa pela redução no preço médio pago nos insumos atrelados a produção do concentrado. Isso pode ser feito aproveitando os momentos de baixa no preço dos grãos para a realização de compras estratégicas, além de utilizar substitutos ao milho e à soja, tornando o concentrado da propriedade mais barato, de acordo com a realidade local. Nos momentos em que a Relação de Troca está desfavorável, mesmo utilizando as estratégias para a redução do preço do concentrado, o produtor deve focar no aumento da eficiência da utilização desse insumo. Algumas ações podem ser adotadas: o balanceamento adequado da dieta para os animais, a divisão de lotes e o fornecimento de um volumoso de melhor qualidade, diminuindo a demanda por concentrado.
Portando, utilize o indicador Relação de Troca Leite/Concentrado como auxílio nas tomadas de decisão dentro da propriedade, traçando estratégias que reduzam o preço do concentrado e aumentem a eficácia na utilização dos insumos.