INs 76 e 77: como as novas regras de produção do leite impactam a rentabilidade do produtor

As novas regras para a produção de leite no Brasil, trazidas pelas Instruções Normativas (INs) 76 e 77 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) impuseram desafios à cadeia leiteira do país, exigindo que produtores e indústria tenham de trabalhar ainda mais afinados para garantir a melhoria da qualidade do leite produzido.

Ao contrário do que se especula, sobretudo quando se fala em perdas financeiras para uma fazenda produzir leite dentro das exigências, o cumprimento do que é previsto nessa legislação é a ferramenta para o produtor incrementar sua receita. E você, sabe quanto poderia ganhar a mais pela qualidade? Consegue mensurar quanto a CCS (Contagem de Células Somáticas, que indica a qualidade das glândulas mamárias) e a CBT (Contagem Bacteriana Total) atas impactam o custo da sua produção e o preço do litro de leite?

Ao final deste texto, você saberá quanto pode ganhar com a melhoria da qualidade do seu leite e como potencializar a receita da sua fazenda.

 

INs 76 e 77: você atende às novas regras?

Antes de falar sobre o impacto financeiro, é preciso explicar quais os principais índices de qualidade que o leite deve ter para ser comercializado. Um dos parâmetros mais significativos nesse contexto são CCS (Contagem de Células Somáticas) e CBT (Contagem de Bactéria Total). Com base nas novas regras, a contagem bacteriana máxima é de 300 mil unidades formadoras de colônia por mililitro e 500 mil células somáticas por mililitro.

O leite cru não deve apresentar substâncias estranhas à sua composição, como agentes inibidores do crescimento microbiano, neutralizantes da acidez, tampouco resíduos de produtos de uso veterinário. Em relação à Contagem Padrão de Placas (CPP), o limite máximo é de até 900.000 UFC/ml antes do processamento do leite cru refrigerado na beneficiadora.

Na refrigeração do leite e no seu transporte até o estabelecimento, o limite de temperatura passa a ser de 7°C no recebimento do leite no estabelecimento. A norma admite até 9°C em situações excepcionais. A conservação e a expedição do leite no posto de refrigeração terão de ser de até 4°C. Todas as atualizações da legislação, segundo o Mapa, têm como foco o fornecimento de leite de melhor qualidade ao consumidor brasileiro. Tais parâmetros foram definidos com referência em legislações estrangeiras e literatura técnica.

Após esclarecimento sobre cada um desse índices, quanto o produtor pode ganhar com a melhoria da qualidade do produto entregue ao laticínio? Quem trabalha no setor da pecuária leiteira sabe que a CCS alta indica que a vaca está passando por um processo inflamatório. Isso significa que o sistema imunológico do animal está sendo desafiado a combater uma infecção, o que consequentemente vai fazer com que a vaca produza menos. No caso da CBT, a interferência é de fatores externos, como ambiente e material não higienizado corretamente, utilizado durante a ordenha.

Com os índices acima do permitido e a produção comprometida, o produtor começa a perder dinheiro porque deixa de receber os bônus pagos pelos laticínios por qualidade e volume de produção. Além de poder ser penalizados com a interrupção do fornecimento, caso a média de qualidade não seja atendida.

 

Quanto você está perdendo com os altos índices de CBT e CCS?

Agora vamos ver como o controle desses parâmetros pode interferir consideravelmente na receita dos produtores de leite. Levantamento realizado em 457 fazendas atendidas pelo projeto Educampo, do Sebrae Minas, mostrou que produtores que atendem às especificações de CCS e de CBT ganham de R$ 0,08 a R$ 0,15 a mais por litro de leite se comparado aos que não atendem às novas normas. Ou seja, há grandes oportunidades de crescimento da rentabilidade dos produtores que ainda não cumprem os parâmetros.

 

Nessa análise foram considerados três cenários diferentes, comparando a margem bruta dos que atendiam ao padrão exigido pela IN 77 com os que não atendiam: 1) fazendas que atendiam aos parâmetros de CCS e CBT; 2) os que atendiam apenas à CCS; 3) e propriedades que atendiam apenas à CBT.

Um dado que chama a atenção é que em todas as fazendas que não atendem aos índices de contagem bacteriana total a CCS é muito maior do que nas propriedades onde a CBT se enquadra no exigido pela norma. Isso mostra que ações como manejo correto e higiene de ordenha (ordenhador/ambiente/equipamentos) serão decisivas na redução da contagem bacteriana em curto prazo, podendo refletir diretamente na adequação dos níveis de células somáticas gerados pelos animais.

Ainda de acordo com a base de dados da plataforma Educampo, considerando apenas os índices de CBT, a produção média por vaca nas fazendas que não atendem aos parâmetros é de 13,71 litros/dia, ante a 19,13 litros/dia em média por animal nas propriedades onde a produção está adequada à legislação. Com um simples cálculo, é possível ver o impacto disso no negócio. Com um rebanho hipotético de 50 vacas em lactação, uma fazenda que produz cerca de 13 litros em média/animal/dia recebe em torno de R$ 1,43 por litro de leite, gerando um faturamento de aproximadamente R$ 350 mil no ano.

 

Já as propriedades assistidas pelos consultores do Educampo que cumprem as novas exigências e estão produzindo em média 19 litros/vaca/dia podem contabilizar uma receita de cerca R$ 550 mil no período, levando-se em conta o mesmo rebanho hipotético de 50 animais. Ou seja, R$ 200 mil a mais no acumulado do ano. Nesse caso, isso se justifica porque, além do maior volume, os produtores são mais bem remunerados pela qualidade do leite, recebendo em torno de R$ 1,58 pelo litro do produto.

 

Valor agregado e aumento da produção no Brasil

Estudos comprovam que altos índices de CCS interferem não apenas na qualidade, como também no rendimento da produção de derivados. A redução da contagem de células somáticas aumenta aproximadamente 15% no rendimento bruto industrial de queijos muçarela, por exemplo. Outro impacto significativo é no tempo de prateleira. Nos Estados Unidos, a validade do leite pasteurizado é de até 20 dias, enquanto aqui no Brasil é de apenas 4 dias. Isso permitiria menores perdas da indústria e maior valor agregado do produto, resultando em maior valorização do leite produzido.

Como se pode notar, as INs 76 e 77 trarão avanços significativos para a qualidade, o que, segundo o fiscal do Mapa, Sérgio Bajaluk, promoverá também aumento da produtividade leiteira, oferta de alimentos mais seguros à população e queda de barreiras comerciais para a exportação. Nos últimos 45 anos, a produção de leite nacional quintuplicou, crescendo de 7,1 bilhões de litros para mais de 35,1 bilhões de litros. Mas, com esses novos parâmetros de qualidade, a expectativa é de crescimento ainda maior da produção e abertura para o mercado interno, o que vai beneficiar toda a cadeia produtiva, principalmente o produtor.

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