Da porteira pra dentro
Quando o assunto é qualidade do leite ainda é comum observamos dois perfis de produtores: aqueles que acreditam que a qualidade é “coisa para inglês ver” e que mesmo diante de tantas evidências, preferem não acreditar que eles são os mais prejudicados com a produção de um leite de má qualidade, e o grupo daqueles que sabem que a qualidade do leite já é “coisa que o brasileiro exige”, e que uma boa qualidade favorece sua atividade tanto no aspecto técnico, como no econômico.
As propriedades participantes do Educampo têm olhado da porteira para dentro: a quantidade de propriedades que produzem um leite de excelente qualidade, atendendo aos parâmetros preconizados pelas Instruções Normativas 76 e 77 do MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento), têm aumentado a cada ano (Figura 1).
Figura 1 – Percentual de propriedades da Plataforma Educampo que atendem e que não atendem as instruções normativas 76 e 77 para a Contagem de Células Somáticas e Contagem Bacteriana Total (CBT).
* Atendem a IN 76 e 77: propriedades com contagem de células somáticas (CCS) abaixo de 500.000 células/ml e contagem bacteriana total abaixo de 300.000 UFC/ml.
** Não atendem a IN 76 e 77: propriedades com contagem de células somáticas (CCS) acima de 500.000 células/ml e contagem bacteriana total (CBT) acima de 300.000 UFC/ml.
Fonte: Sebrae Minas. Considerando 280 propriedades analisadas de novembro/2017 a outubro/2020
Um estudo realizado por Gonçalves et al. (2018) avaliando informações da qualidade do leite referente a 33 mil vacas brasileiras por um período de 5 anos, revelou que à medida que a CCS aumenta, são esperadas perdas de 0,52 a 1,6 litros de leite/vaca/dia para primíparas. Já para multíparas as perdas em produção são ainda maiores, pois giram em torno de 1,88 litros/vaca/dia e podem chegar a 4,07 litros/vaca/dia.
Para quantificar o prejuízo causado, a título de exemplo, imagine uma vaca de segunda cria produzindo 15 litros de leite/dia com uma CCS de 800.000 células/ml. Considerando que esse animal está deixando de produzir 2 litros/dia, o seu real potencial produtivo seria de 17 litros de leite/dia. Veja na tabela a seguir o impacto desses 2 litros/dia.
Tabela 1 – Simulação dos resultados técnicos e econômicos considerando o ganho em produtividade ocasionado por eventuais melhorias na CCS
* : Considerando uma lactação de 305 dias.
**: Custo unitário médio com qualidade do leite das propriedades atendidas pelo Educampo.
Fonte: Sebrae Minas. Considerando 280 propriedades analisadas de novembro/2017 a outubro/2020.
Considerando um preço médio de R$1,95/litro de leite produzido, uma vaca nas condições mencionadas anteriormente estaria deixando de garantir ao produtor R$1.190,00 a mais na renda bruta durante sua lactação. Ao descontarmos da renda gerada pela vaca o custo com a qualidade do leite, temos que o valor da ineficiência devido à alta CCS é de R$1.165,00/lactação/vaca. Caso essa propriedade conte com 10 vacas nessa situação, o produtor estaria deixando de ganhar anualmente R$11.650,00, além de correr riscos adicionais por não cumprir os requisitos mínimos exigidos pela legislação vigente.
Deixar de ganhar dinheiro não é nada bom, principalmente por algo que pode ser resolvido da porteira para dentro, começando com simples atitudes.