Como avaliar a viabilidade econômica da utilização de coprodutos na dieta das vacas leiteiras?
Com os principais ingredientes da dieta dos bovinos atingindo preços recordes, buscar o equilíbrio nas despesas com alimentação se tornou ainda mais importante, já que podem comprometer mais de 50% da renda bruta da atividade. Com isso, muitos produtores e técnicos tem direcionado os esforços para a utilização de coprodutos. Porém, como avaliar se está sendo viável economicamente utilizar coprodutos na dieta dos animais?
Os coprodutos são resíduos gerados de processos industriais e que podem ser utilizados de forma estratégica na atividade leiteira, visto que podem substituir parcialmente os ingredientes tradicionais da dieta animal (milho e soja), o que pode favorecer o equilíbrio dos gastos com alimentação do rebanho.
Para avaliar a viabilidade no uso dos coprodutos, é preciso conhecer a composição química dos alimentos. Na Tabela 1 estão descritas as informações dos principais alimentos (milho e soja). A matéria seca (MS) é a porção que sobra do alimento após a retirada de toda sua água e, portanto, fazem parte da MS todos os nutrientes como energia, proteína, minerais e vitaminas. A proteína bruta (PB) é utilizada como parâmetro para classificar os alimentos em energéticos ou proteicos, sendo, portanto, o farelo de soja considerado como um alimento proteico devido ao alto teor de PB (acima de 20% de PB na MS), enquanto o milho, por exemplo, é um alimento energético (abaixo de 20% de PB na MS). Já os nutrientes digestíveis totais (NDT) correspondem, basicamente, à energia do alimento. Por isso, quanto maior o teor de NDT, maior será a quantidade de energia que esse alimento possui. Nesse sentido, demais alimentos proteicos poderiam substituir parcialmente a soja, e os alimentos energéticos substituiriam parcialmente o milho na composição da dieta dos animais.
Tabela 1– Principais alimentos utilizados na dieta de bovinos de leite
Fonte: Elaborado por Sebrae Minas. Preços médios (R$/kg) praticados no mês de maio/21 em fazendas participantes do Educampo Sebrae. Análise química obtida na tabela de composição química e bromatológica de alimentos (CQBAL), em valores médios.
Para facilitar o processo de decisão, e não restar dúvidas da viabilidade dessa substituição, vamos fazer um passo a passo sobre como calcular os valores por quilo (R$/kg) de PB e NDT dos alimentos na MS. Como exemplo, faremos o cálculo para o farelo de soja e para o fubá de milho:
Farelo de Soja (R$/kg de PB na MS) = Preço (kg) ÷ ((Teor de PB x teor de MS) ÷ 10.000)
= 2,69 ÷ ((48,79 x 88,64) ÷ 10.000) = R$ 6,22
Fubá de Milho (R$/kg de NDT na MS) = Preço (kg) ÷ ((Teor de NDT x teor de MS) ÷ 10.000)
= 1,80 ÷ ((87,44 x 87,59) ÷ 10.000) = R$ 2,35
Para avaliar se a substituição dos alimentos é viável, é necessário realizar o mesmo cálculo acima para os coprodutos e comparar os resultados com o do milho e da soja. Na Tabela 2 estão descritas as médias dos valores praticados no mês de maio/21 por propriedades atendidas pela Plataforma Educampo para alguns coprodutos.
Tabela 2 – Coprodutos utilizados na dieta de bovinos de leite
Fonte: Elaborado por Sebrae Minas. Preços médios (R$/kg) praticados no mês de maio/21 em fazendas participantes do Educampo Sebrae. Análise química obtida na tabela de composição química e bromatológica de alimentos (CQBAL), em valores médios.
*: Potenciais substitutos para o fubá de milho. **: Potenciais substitutos para o farelo de soja.
Nesse exemplo, podemos observar que os alimentos que possuem o preço do quilo de PB na MS abaixo de R$ 6,22 podem ser potenciais substitutos do farelo de soja. Já os alimentos que possuem o preço do quilo de NDT na MS (R$/kg) abaixo de R$2,35 podem ser eventuais substitutos do milho. Esses valores irão variar conforme a realidade local e o contexto do mercado. Então, é importante que sejam realizados cálculos de forma individualizada, de acordo com a realidade de cada propriedade.
É preciso estar atento, pois nem sempre será viável técnica e economicamente a substituição parcial do milho e da soja pelos coprodutos. Além disso, alimentos que são viáveis hoje, podem não ser no próximo mês e vice-versa. Sem nenhuma tendência de queda nos preços dos principais insumos no curto prazo, a procura pelos alimentos alternativos aumenta, influenciando em um maior preço do produto, além da influência do valor do dólar, questões climáticas e mercado global.
A atenção aos valores de comercialização desses produtos na região de cada produtor é de fundamental importância, sempre considerando o custo do frete. As vantagens e desvantagens da utilização desses alimentos na dieta do rebanho e, também, o nível de inclusão adequado desses alimentos para que não comprometa negativamente o desempenho dos animais deve ser analisada, sempre buscando a lucratividade.