Na ponta do lápis

 

 

O ano de 2020 se finda e confirma os bons resultados da safra do café 19/20: elevada produção e produtividade. No entanto, a safra 20/21 se iniciou com frustação logo nos primeiros meses – as intempéries climáticas assolaram as lavouras e prejudicaram, significativamente, a florada. Dentre os fatores climáticos que propiciaram essa quebra estão as elevadas temperaturas observadas na florada e o estresse hídrico. A irrigação surge, então, como alternativa para mitigar esses efeitos na cafeicultura. Será que é válido irrigar? Essa decisão deve ser feita a partir da análise do investimento demandado e deve estar na ponta do lápis!

Para ajudar o cafeicultor a elaborar a resposta a essa pergunta, segue a análise do levantamento que compara lavouras irrigadas e sequeiro na região do cerrado, que possui um significativo número de fazendas irrigadas. Esse levantamento foi feito comparando a produtividade do biênio 17/19, obtida pelas lavouras irrigadas e de sequeiro, de acordo com a faixa etária de lavoura (Gráfico 1).

 

 

 

Observa-se que a produtividade do parque cafeeiro, na média, é maior para lavouras irrigadas em 7,36 sacas/ha e que lavouras com mais de 13 safras e irrigadas apresentam média semelhante às de sequeiro, com baixo retorno produtivo. Pode-se inferir que a resposta produtiva da irrigação ocorre na faixa etária mais jovem da lavoura (ainda que inicie sua fase produtiva com significativa produtividade).

Mesmo que seja observada essa diferença de produtividade, deve-se avaliar muito bem antes de optar por um investimento em irrigação, pois esse impacta em até 36% do investimento sobre a terra (máquinas, equipamentos, benfeitorias e lavouras), como mostram os dados do Gráfico 2.

 

 

 

O imobilizado em irrigação nas fazendas participantes do Educampo inclui todos os equipamentos como adutoras, bombas, linhas de gotejo ou pivô, painel elétrico, além das benfeitorias, como reservatórios e casas de bomba.

Em uma conta simples, ao se analisar o investimento em irrigação para lavouras a serem implantadas, considerando o preço histórico do café (corrigido) de R$ 590 por saca e um investimento médio em irrigação por hectare de R$ 15.620:

  • Fazendas irrigadas devem, ao longo de 10 safras produtivas, vida útil considerada, produzirem em relação a um cultivo de sequeiro, 26,5 sacas de café a mais, ou 2,65 sacas por safra, para pagarem o investimento na irrigação ao longo de todo o ciclo.
  • Esse resultado se mostra interessante quando se observa a média de 7,36 sacas a mais produzida pelos irrigados, como mostrado anteriormente.

Ainda assim, por mais que se demonstre atrativo esse investimento, é necessário fazer as contas, deixar tudo na ponta do lápis. Somente o capital necessário para formação de lavouras, está ficando, em média, em todo estado, R$ 18.000 por hectare e a inserção da irrigação aumenta esse investimento em até 90%.

Por isso, a opção pela irrigação deve ser muito bem analisada, ponderando as características de clima e solo da região e principalmente, a disponibilidade de recursos financeiros para fazer um aporte tão significativo. Nesse tipo de situação, o caixa projetado deve ser avaliado e, se envolver créditos bancários, os juros devem ser quantificados e as parcelas a serem quitadas devem estar previstas no planejamento econômico do empreendimento. As parcelas não podem estrangular o caixa da fazenda, gerando endividamento e apuros financeiros.

 

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