A importância da gestão técnica e econômica na cafeicultura
O planejamento estratégico, em qualquer atividade, é uma ferramenta indispensável para assegurar o acompanhamento das ações necessárias durante e a evolução dos resultados. Na cafeicultura não é diferente, já que para garantir uma boa performance econômica e produtiva das lavouras, o gestor precisa identificar todas as variáveis que interferem nos resultados e atuar para minimizar as perdas e maximizar os ganhos econômicos.
Quais ações os produtores devem tomar para anteciparem os problemas inerentes à produção de café? Quais estratégias devem ser adotadas para enfrentar os principais desafios que aparecem durante a condução das lavouras?
Para responder essas e outras perguntas, convidamos o Consultor Especialista do Educampo Sebrae Luiz Gustavo Silva Rabelo. O intuito é que ele apresente as práticas técnicas e gerenciais utilizadas por ele na região de Monte Carmelo/MG, onde atende fazendas participantes da plataforma.
Luiz Gustavo é engenheiro agrônomo e Consultor Especialista do Educampo Café desde 2015 pela Associação dos Cafeicultores da Região de Monte Carmelo (AMOCA). Atualmente, ele leva a inteligência do Educampo Sebrae para 23 fazendas de café.
Vale ressaltar que cada região tem sua particularidade, tendo influência direta no processo de gestão. Dessa forma, é fundamental que o gestor conheça de perto a sua realidade a fim de tomar as melhores decisões.
Confira a entrevista na íntegra.
Quais desafios você enfrenta nas propriedades que assiste?
A bienalidade acentuada, sem dúvida, é um ponto de atenção para melhorarmos, visando equilibrar o fluxo de caixa.
Na região de Monte Carmelo, sofremos também com a alta incidência do bicho mineiro, que acaba afetando a produção e também os gastos com inseticidas – que dentro da composição dos custos e das despesas com insumos representa o segundo maior gasto, apenas inferior aos fertilizantes.
Outro desafio é a queda de grãos, os caem ao chão, devido as questões climáticas, incidência de doenças, ou até mesmo de algumas pragas. Algumas fazendas esse índice já chegou a 25% sendo, em média, em torno de 15%.
Quais fatores levaram a essa condição?
A boa condução das lavouras, ou seja, adubações coerentes com a produtividade esperada, pulverizações corretas e irrigação são fatores que auxiliam na manutenção dos resultados. A juventude e o vigor das lavouras novas também são fatores importantes para atenuar os efeitos da bienalidade, bem como da queda de frutos.
Em relação ao bicho mineiro, a maior incidência pode ser explicada por alguns fatores principais, como clima, espaçamento de plantio e também à falta de alternância de mecanismos de ação dos inseticidas. Outro fator é a não adesão de alguns produtores a algumas práticas culturais que minimizam a reinfestação da lavoura pelo Bicho Mineiro, como remover e trinchar as folhas caídas embaixo das plantas.
Como esses fatores podem impactar nos resultados?
As adubações em doses ajustadas à demanda de cada talhão e o uso de fontes orgânicas e com boa relação custo x benefício são fatores que proporcionaram uma boa produtividade média. Pode ser óbvio falar: não podemos adubar o café pensando apenas naquela safra em questão, mas pensar em pelo menos mais uma, pois enquanto os grãos estiverem em desenvolvimento precisamos formar e fazer os ramos crescerem.
Já em relação a queda de frutos e a alta incidência de bicho mineiro, elas podem ser reduzidas com uma nutrição equilibrada, tratos culturais adequados a cada situação e monitoramento constante, da presenças de mariposas, folhas minadas e se a predação por inimigos naturais. Devemos nos lembrar também da importância da adoção do Manejo Integrado de Pragas (MIP), tudo isso diante da orientação de um técnico habilitado.
Quais estratégias/ações o grupo de produtores que atende utilizou, diante desse cenário?
Trabalhamos ao longo dos anos para buscar um maior equilíbrio nutricional das lavouras e alternância de grupos químicos, principalmente em relação aos inseticidas.
A queda de frutos é algo difícil de prevenir. Alguns fungicidas podem amenizar a queda em determinada época, mas os resultados são pouco satisfatórios. O ideal é estar com a nutrição de plantas bem equilibrada e adotar nas lavouras irrigadas o manejo correto.
Qual das estratégias foi a mais impactante ou importante?
Acredito que as duas ações mais importantes e que mais contribuíram para os resultados das fazendas foram a maior atenção nas recomendações de adubações e a análise foliar realizada pelo menos duas vezes por safra, para ajustar a nutrição. Considero também, nesse contexto, a estratégia de buscar técnicas culturais com o objetivo de auxiliar o controle químico do bicho mineiro e a alternância de grupos químicos também contribuíram para o sucesso da estratégia.
Qual é sua “dica de ouro” quando o assunto são as ações preventivas para o produtor antecipar esses problemas, para assumir o risco controlado?
Penso que, no caso das “empresas a céu aberto”, as ações preventivas são muito importantes, pois dependemos muito do clima para conseguir executá-las. Sabendo disso, um bom planejamento operacional, contemplando o máximo de variáveis possíveis, é a dica principal. Mas também é fundamental manter uma nutrição equilibrada e tratar os talhões da fazenda com suas devidas particularidades.
Nesse contexto, qual mensagem ou dica você deixaria para as pessoas envolvidas na cafeicultura (stakeholders)?
A gestão técnica e econômica é a melhor forma de garantir uma cafeicultura sustentável. Devemos focar na melhoria constante das propriedades, pois é dentro da porteira que conseguimos agir com maior efetividade, uma vez que temos pouca ou nenhuma influência do mercado. O que está em nossas mãos é a possibilidade de gerir nossas fazendas como verdadeiras empresas rurais.